quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sou uma incubadora, parte II

Eu já calculava. Aconteceu o mesmo com a Catarina. E, por mais que se diga que não há duas gravidezes iguais, esta está a ser muito parecida com a primeira.

Segunda-feira fui à médica e vim de lá com a receita de repouso absoluto. O Vicente está com pressa, mas precisa de ficar no quentinho mais umas semanas. Por isso, o meu papel agora é ser uma incubadora.

Quando foi com a Catarina, adorei este tempo: descansei muito, consegui pôr as séries, os filmes e a leitura em dia, preparei-me mentalmente para o bom caos que aí vinha. Mas agora não estou sozinha. Sou uma incubadora com atrelado. A Catarina estranhou logo na segunda-feira: «Porque é que tu é que me vens buscar?», perguntou quando viu o pai na escola. Em casa, explicámos-lhe que a mãe tinha que descansar muito para o Vicente nascer grande e forte e que quando ela estava na minha barriga tinha acontecido o mesmo. Disse-lhe também que, estando eu quietinha no sofá, teríamos muito mais tempo para brincar juntas (brincadeiras sossegadas, claro), já que não podia andar a arrumar a casa ou a tratar de outros assuntos.

Não ficou muito convencida. Não vou buscá-la à escola. Não vou passear com ela. Não lhe dou banho. Acho que, pela primeira vez, percebeu que isto de ir ter um mano pode atrapalhar-lhe um pouco a vida. E eu percebi, pela primeira vez, sem querer ser muito dramática, que ter mais do que um filho será uma eterna «escolha de Sofia».

quinta-feira, 24 de maio de 2012

5 anos


Faz hoje cinco anos que a minha vida mudou. Há cinco anos descobri o amor incondicional. Eu pensava que sabia o que era. Afinal, eu amava algumas pessoas e sabia que faria muita coisa por elas. Mas este amor, este amor que cresce todos os dias, que me faz acordar bem-disposta mesmo quando o mundo parece prestes a acabar, que me faz levantar da cama mesmo quando o corpo parece pesar cem quilos, que me faz sorrir mesmo quando tenho vontade de chorar, este amor é diferente de todos os outros.

Faz hoje cinco anos que a minha vida mudou. Muitas coisas deixaram de ter importância, outras ganharam um valor que nunca tinham tido. Não digo que percebi logo a imensidão do sentimento que vinha aí. Foi ao longo do tempo que confirmei que todos os clichés sobre o amor de mãe são a mais pura das verdades, que não há amor maior do que este.

Há cinco anos vi a minha filha pela primeira vez. Esta manhã, como todas as outras nos últimos tempos, ouvi os pezinhos dela a pousarem no chão, a correrem pela casa na minha direção. «Bom dia mamã!» E se eu pudesse tê-la desenhado, tê-la programado, ter escolhido cada pormenor seu, não seria um amor tão maravilhoso.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Todos os nomes


Escolhemos o nome Vicente há muitos anos. Ainda nem pensávamos em ter filhos. Inspirados por uma viagem romântica, numa daquelas conversas que os jovens apaixonados têm sobre o futuro.

Quando fiquei grávida pela primeira vez, lembrámo-nos do Vicente, mas calhou-nos uma menina e foi noutra escapadinha romântica que descobrimos que Catarina seria o nome perfeito.

Agora, que já somos três lá em casa, a conversa dos nomes não teve direito a viagem romântica, mas deu muito pano para mangas. Seguindo o conselho de livros, psicólogos, pediatras e gente em geral, perguntámos à Catarina que nome gostaria que o irmão tivesse. Mas ela, além de mudar de opinião dez vezes ao dia, só escolhia nomes que não nos diziam nada.

Decidimos então recuperar o Vicente. A Catarina gostou. Ficámos todos felizes.

Eis que, não sei bem porquê, todas as pessoas – amigos, familiares e desconhecidos que acham graça a uma grávida com uma criança pela mão e, por isso, desatam a fazer perguntas – se lembram de perguntar à Catarina: «Então, que nome é que escolheste para o mano?» ou «Como se vai chamar o mano? Foste tu que escolheste?»

Ela, que é sempre uma miúda simpática e expedita, até fica meio atrapalhada e lá vai dizendo que o mano se chama Vicente, mas não foi ela que escolheu. E até eu fico sem saber o que dizer, a pensar que, se calhar, sou a pior mãe do mundo por não ter deixado a irmã mais velha escolher o nome do irmão mais novo.

Mas há alguma regra universal que obrigue que assim seja? Afinal, quem é que manda lá em casa?

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Conta-me como nasci


Eu só tinha três anos, mas juro que me lembro. Morávamos na casa da minha avó. Devíamos ter acabado de jantar há pouco tempo. A minha mãe, com uma barriga gigante, a calçar umas botas castanhas até ao joelho e eu a pensar que raio de ginástica era aquela, porque não calçaria ela algo mais fácil estando no estado em que estava. O meu irmão nasceu às 23h55. Contam-me que, no dia seguinte, quando fui vê-lo à maternidade, fiquei surpreendida com a sua fealdade, mas isso já não me lembro.

Passados dez anos, deviam ser oito da manhã, a minha mãe, agarrada à barriga, acorda-me, decidida como só ela: «Levanta-te, que eu tenho de ir para a maternidade e quero deixar os teus lençóis a lavar...» Entre o espanto e o mau-humor, saio da cama, tomo o pequeno-almoço, faço mais qualquer coisa e quando volto a deitar-me, desta vez só sobre o edredão, toca o telefone. Era o meu pai: o meu irmão já tinha nascido. Olho para o relógio: passava pouco das nove da manhã.

Há ainda o relato do meu nascimento – a filha mais velha – relembrado todos os anos com entusiasmo: a minha mãe à espera que a Cornélia acabasse e que fechasse a emissão televisiva para ir para o hospital. Chegou lá por volta da uma da manhã. Nasci às 4h40.

Estas são as histórias de partos que me acompanharam ao longo da vida. A minha mãe sempre com uma tranquilidade inacreditável, sem pressas, sem dores, sem preocupações e a bater recordes de tempo na corrida sair-de-casa-nascimento-do-bebé.

Quando chegou a minha vez, não foi muito diferente. Tive o primeiro sinal às nove da manhã, fui para a clínica calmamente, senti a primeira contração ao meio dia e a Catarina nasceu às 14h07, num momento mais que perfeito.

Agora, peço igualmente que a genética continue a funcionar, que a tranquilidade não me abandone, que as forças não se acabem, que o tempo corra a meu favor e que o Vicente nasça saudável e feliz no meio de uma bolha de amor.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Catarina na ecografia


A Catarina pediu-me para ir comigo à ecografia do terceiro trimestre.

Tem ouvido falar em ir ao médico, ir às análises e à eco e tenho lhe explicado sempre tudo (dentro do que ela percebe, claro), mas nunca sugeri que ela fosse. Até porque no Hospital Francisco Xavier, onde fiz a primeira eco, existe um papel afixado a informar que crianças com menos de 12 anos não podem entrar. Na altura, pensei que até fazia sentido: os hospitais não são sítios para crianças saudáveis, aquele aparato todo pode provocar-lhes alguma confusão e se (lagarto, lagarto, lagarto) há alguma má notícia como falar disso com a criança ali?

Mas também acho que faz sentido deixá-la fazer parte deste momento tão importante e bom da vida da família. Por isso, hoje, noutra clínica, ecografia do terceiro trimestre, lá fomos nós.

Expliquei-lhe tudo direitinho como iria acontecer: que eu iria estar deitada, que pouco se veria do bebé, que iria ouvir o coração, que tinha que estar sossegada. E ela portou-se lindamente, sempre de mão dada comigo, atenta, curiosa, sorridente.

A ecografia mostrou que estava tudo bem (iupi! iupi! iupi!) O Vicente já está na posição certa para nascer, a crescer bem, a mexer-se bem, em grande forma.

No final, perguntei à Catarina se tinha gostado, ao que ela me respondeu com um entusiasta «sim!!» Depois, perguntei-lhe o que tinha gostado mais. E ela, sem hesitar um segundo: «Do creme que o senhor te pôs na barriga!!»

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Do Olimpo, com amor


Adoro estar grávida.

Gosto das mudanças no meu corpo, que me fazem mais bonita e voluptuosa.

Gosto dos altos e baixos das hormonas, de pular de alegria e chorar desalmadamente, de, mesmo quando estou triste, encontrar sempre motivos para sorrir.

Gosto de sentir o poder de criar vida, de ter um bebé a dançar dentro de mim, a depender só de mim.

Gosto dos mimos de toda a gente, de me darem o lugar, de me oferecerem a melhor parte do bolo, de me perguntarem se estou bem e esperarem pela resposta, das festas, beijinhos e elogios constantes.

Gosto do olhar de esperança com que todas as pessoas, mesmo as que não conheço, olham para mim. Como se eu transportasse deus, como se eu fosse uma deusa.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Filha és, mãe serás


Hoje foi Dia da Mãe na escola da minha filha. Teatro, declamação de poemas em inglês, presente, lanche com bolos feitos por ela. Tudo a que as mães têm direito. Uma lindeza.

Ela anda há semanas numa excitação, entre o querer muito contar-me o que iria fazer e a obrigação de guardar segredo. Aos poucos, lá me foi desvendando quase tudo o que tinha planeado para me surpreender. Assim como faz questão de contar tudo o que se passa na escola, desde o que comeu ao que as amigas disseram.

Dizem-me que é aproveitar agora, que, depois, eles deixam de querer contar tudo, deixam de querer responder a perguntas, deixam até de querer falar com os pais.

Lembro-me que também eu fui deixando de falar com a minha mãe. Primeiro, porque as amigas eram mais importantes. Depois, porque queria poupá-la às minhas preocupações e problemas. Agora, noto que, cada vez mais, tenho vontade de partilhar tudo o que se passa comigo com a minha mãe. Chego ao final do dia e, tal como a Catarina me faz, despejo o que me vai na alma e mal a deixo falar. E ela ouve-me, com toda a atenção e amor do mundo. E é tão bom. É o verdadeiro círculo da vida.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sonhar com gatos


Hoje sonhei que o meu filho já tinha nascido e era… um gato! A sério, um gato lindo e fofinho e eu não estava nada preocupada. Mesmo quando ele esticava as patinhas para me arranhar na brincadeira. Mostrava-o à Catarina e as duas estávamos deliciadas.

Depois, achei que era um pouco estranho ter um filho gato e lembrei-me que talvez estivesse a sonhar. Então tentei acordar. Levantei-me da cama e dirigi-me ao berço do bebé e lá estavam… dois bebés. Afinal tinha tido gémeos! E aí, sim, fiquei preocupada.

Freud talvez tivesse uma explicação muito profunda e reveladora quanto ao significado deste sonho. Mas nós, aqui na redação, chegámos  rapidamente às nossas próprias conclusões: estou a fazer um trabalho sobre toxoplasmose na gravidez e tenho uma nova colega cujo apelido é Gatinho.

Parece que, afinal, o meu subconsciente de grávida é muito pragmático.