Eu só tinha três anos, mas juro que me lembro. Morávamos na casa da minha avó. Devíamos ter acabado de jantar há pouco tempo. A minha mãe, com uma barriga gigante, a calçar umas botas castanhas até ao joelho e eu a pensar que raio de ginástica era aquela, porque não calçaria ela algo mais fácil estando no estado em que estava. O meu irmão nasceu às 23h55. Contam-me que, no dia seguinte, quando fui vê-lo à maternidade, fiquei surpreendida com a sua fealdade, mas isso já não me lembro.
Passados dez anos, deviam ser oito da manhã, a minha mãe, agarrada à barriga, acorda-me, decidida como só ela: «Levanta-te, que eu tenho de ir para a maternidade e quero deixar os teus lençóis a lavar...» Entre o espanto e o mau-humor, saio da cama, tomo o pequeno-almoço, faço mais qualquer coisa e quando volto a deitar-me, desta vez só sobre o edredão, toca o telefone. Era o meu pai: o meu irmão já tinha nascido. Olho para o relógio: passava pouco das nove da manhã.
Há ainda o relato do meu nascimento – a filha mais velha – relembrado todos os anos com entusiasmo: a minha mãe à espera que a Cornélia acabasse e que fechasse a emissão televisiva para ir para o hospital. Chegou lá por volta da uma da manhã. Nasci às 4h40.
Estas são as histórias de partos que me acompanharam ao longo da vida. A minha mãe sempre com uma tranquilidade inacreditável, sem pressas, sem dores, sem preocupações e a bater recordes de tempo na corrida sair-de-casa-nascimento-do-bebé.
Quando chegou a minha vez, não foi muito diferente. Tive o primeiro sinal às nove da manhã, fui para a clínica calmamente, senti a primeira contração ao meio dia e a Catarina nasceu às 14h07, num momento mais que perfeito.
Agora, peço igualmente que a genética continue a funcionar, que a tranquilidade não me abandone, que as forças não se acabem, que o tempo corra a meu favor e que o Vicente nasça saudável e feliz no meio de uma bolha de amor.
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