quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A mais bela história de amor


Ela viu-o nascer. Ele deu-lhe o seu primeiro sorriso. Assim que ela entra na sala, o rosto dele ilumina-se. Sempre que ele tem cocó na fralda, ela é a primeira a dar conta. É um amor enorme, que se vê à distância, que preenche todos os bocadinhos da nossa casa e das nossas vidas.

Eu tenho irmãos, eu sei o que é o amor entre irmãos, mas vê-lo assim, do lado de cá, é outra coisa. 

A Catarina passa os dias a dizer ao Vicente que o ama. Desfaz-se em declarações de amor. Diz frases que eu não faço ideia onde vai buscá-las. Põe a voz mais fininha e acaba tudo em inho: "És o meu amorzinho!", "Gosto tanto de ti maninho!", "Ai este bebezinho é tão fofinho!", "Adoro estes pezinhos!"… Outras vezes, mostra que está já a pensar no futuro: "Nunca vamos discutir!", "Vou gostar de ti para sempre!". E houve até um dia em que, no meio dos chorrilhos amorosos, lhe saiu um "quero casar contigo!". Mas depressa corrigiu, rindo-se: "Estava a brincar, sei que não podemos". E enquanto está nesta verborreia apaixonada abraça-o e aperta-o e beija-o, com tanto entusiasmo e força que me deixa a mim aflita e a ele todo contente.

O Vicente passa os dias a virar a cabeça à procura da Catarina. Assim que ouve a voz da irmã põe-se em alerta, de pescoço esticado, a ver se a vê. Ri-se à gargalhada com as conversas dela. Esbraceja e esperneia de alegria se ela faz um simples "cucu!". Acho que basta ela piscar os olhos para ele se derreter. É uma adoração mágica aos seis meses de idade.

Nunca me passou pela cabeça ficar só com um filho. Acho que irá sempre faltar tanta coisa aos filhos únicos. Não há escola privada, nem roupa e brinquedos novos, nem férias paradisíacas que compensem a ausência de amor fraterno. Esta ligação única e eterna a alguém que sabe exatamente de onde viemos, que tem os mesmos hábitos e cheiros, que conhece o nosso dialeto. 

Seria impensável privar um filho meu de tudo isto. E a mim de assistir e participar no crescimento desta história de amor.